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Brasil vai crescer 6% no ano que vem
O Brasil deve ter forte recuperação e crescer 6% no ano que vem, acredita o sócio da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros, que foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso.
O Brasil deve ter forte recuperação e crescer 6% no ano que vem, acredita o sócio da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros, que foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso. "Vejo a economia retomando rapidamente o dinamismo de antes da crise", disse, em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo, da Agência Estado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Esta semana o Brasil virou grau de investimento pela Moody"s. Qual a importância desse upgrade?
Houve uma convergência das agências, com uma novidade no caso da Moody"s, pois ela, além de melhorar nossa nota no nível de investment grade, colocou também em observação positiva. Isto é, deu um sinal de um movimento próximo de melhora ainda na nota. Mas é uma coisa engraçada porque o mercado já vinha antecipando esse movimento. Acho que essa questão do investment grade está superada. Vamos olhar para frente.
Ao olhar à frente, o que o sr. vê?
Vejo uma economia retomando rapidamente o dinamismo que tinha antes da crise, com impacto ainda negativo do comércio exterior - as exportações brasileiras não se recuperaram. Certamente, o investimento, afetado na crise, vai voltar naturalmente. Alguns analistas parecem não entender que uma dinâmica de economia de mercado tem um timing natural. Muita gente está criticando que o investimento não voltou ainda. Isso é absurdamente natural. Estamos saindo de uma crise. Então acho que a cadência da economia brasileira vai ser a manutenção do estímulo vindo do setor privado, do consumo - o emprego voltou a crescer, os salários voltaram a ter ganho positivo, em real. Os bancos também voltaram à normalidade. Com um estímulo adicional, pois perderam espaço para os bancos públicos nesses quatro a cinco meses em que se trancaram. Acho que vão querer recuperar o tempo perdido, o que dá um impulso maior à retomada do crédito.
O sr. enxerga uma enxurrada de recursos vindo para o Brasil?
Isso já está ocorrendo. Se olharmos a previsão de abertura de capital de empresas brasileiras nos próximos meses, estamos perto dos US$ 14 bilhões. E isso vai acontecer porque o mundo tem hoje um desequilíbrio entre oportunidade e liquidez para investimentos. Porque tem um pedaço grande do mundo, principalmente dos desenvolvidos, em que a retomada da atividade vai ser muito lenta. E esse pedaço tem ainda uma capacidade ociosa para ser ocupada, que vai fazer com que os investimentos nos próximos dois anos sejam muito pequenos. Por outro lado, há alguns países - o Brasil é um deles - onde se retomou mais rapidamente a dinâmica do consumo e as oportunidades se apresentam de forma mais clara. Além disso, é importante entender que nessa saída de crise há um problema com o dólar americano, que tem levado investidores a buscar ativos em regiões do mundo cuja moeda tenha dinâmica diferente do dólar. O real é uma dessas moedas.
O dólar chegou ontem (dia 23) a R$ 1,782. Pode cair mais?
Não sei. Há seis meses fiz uma projeção que naquele momento parecia absurda, de dólar a R$ 1,80. Até R$ 1,80 eu vou. A partir daí, prefiro observar (risos). Mas é importante entender que o real não tem movimento autônomo, isolado. Ele está se valorizando numa cesta de moedas - principalmente ligadas a economias exportadoras de commodities - e tem de acompanhar um pouco essa dinâmica. Ele não está sozinho.
O que impede o dólar de voltar ao patamar pré-crise?
Ele volta ao patamar pré-crise se as outras moedas também voltarem. E tem o Banco Central. Acho que o BC teria de acompanhar a cotação do real nessa cesta de moedas. Isto é, ele não deve interferir no processo de valorização dessa cesta. Mas se nessa cesta de moedas, o real, por alguma condição de movimento de capitais, tiver uma valorização maior, acho que é dever dele intervir.
O sr. não vê então nenhum grande problema na economia?
Por incrível que pareça, na metade do ano que vem vamos começar a nos preocupar com a inflação. E aí entra a questão fiscal. No período em que a economia privada deu esse vácuo, ele (governo) entrou, corretamente. Só que está na hora de sair. Porque, se acumularmos crescimento do consumo interno - que vai ocorrer -, volta dos investimentos e nível de gasto do governo tão elevado, vamos começar a criar tensão inflacionária, que vai desembocar na alta dos juros.
De qualquer modo, a partir do segundo semestre de 2010 pode haver um problema para o BC?
Acho que sim. Nós podemos começar a ver uma inflação mais próxima de 5% do que de 4,5% já no ano que vem.
Como o sr. vê o crescimento do Brasil em 2010?
Nós revisamos nossa projeção para crescimento do PIB em 2010 de 5% para 6%.
Qual sua expectativa para o relatório trimestral de inflação?
Acho que todas as projeções para este ano e para o ano que vem apontam ainda para um número por volta de 4,5% (IPCA). O que estou colocando como preocupação é uma projeção um pouco mais adiante, que não é bem o objetivo do relatório de inflação do BC.
Esta semana o Brasil virou grau de investimento pela Moody"s. Qual a importância desse upgrade?
Houve uma convergência das agências, com uma novidade no caso da Moody"s, pois ela, além de melhorar nossa nota no nível de investment grade, colocou também em observação positiva. Isto é, deu um sinal de um movimento próximo de melhora ainda na nota. Mas é uma coisa engraçada porque o mercado já vinha antecipando esse movimento. Acho que essa questão do investment grade está superada. Vamos olhar para frente.
Ao olhar à frente, o que o sr. vê?
Vejo uma economia retomando rapidamente o dinamismo que tinha antes da crise, com impacto ainda negativo do comércio exterior - as exportações brasileiras não se recuperaram. Certamente, o investimento, afetado na crise, vai voltar naturalmente. Alguns analistas parecem não entender que uma dinâmica de economia de mercado tem um timing natural. Muita gente está criticando que o investimento não voltou ainda. Isso é absurdamente natural. Estamos saindo de uma crise. Então acho que a cadência da economia brasileira vai ser a manutenção do estímulo vindo do setor privado, do consumo - o emprego voltou a crescer, os salários voltaram a ter ganho positivo, em real. Os bancos também voltaram à normalidade. Com um estímulo adicional, pois perderam espaço para os bancos públicos nesses quatro a cinco meses em que se trancaram. Acho que vão querer recuperar o tempo perdido, o que dá um impulso maior à retomada do crédito.
O sr. enxerga uma enxurrada de recursos vindo para o Brasil?
Isso já está ocorrendo. Se olharmos a previsão de abertura de capital de empresas brasileiras nos próximos meses, estamos perto dos US$ 14 bilhões. E isso vai acontecer porque o mundo tem hoje um desequilíbrio entre oportunidade e liquidez para investimentos. Porque tem um pedaço grande do mundo, principalmente dos desenvolvidos, em que a retomada da atividade vai ser muito lenta. E esse pedaço tem ainda uma capacidade ociosa para ser ocupada, que vai fazer com que os investimentos nos próximos dois anos sejam muito pequenos. Por outro lado, há alguns países - o Brasil é um deles - onde se retomou mais rapidamente a dinâmica do consumo e as oportunidades se apresentam de forma mais clara. Além disso, é importante entender que nessa saída de crise há um problema com o dólar americano, que tem levado investidores a buscar ativos em regiões do mundo cuja moeda tenha dinâmica diferente do dólar. O real é uma dessas moedas.
O dólar chegou ontem (dia 23) a R$ 1,782. Pode cair mais?
Não sei. Há seis meses fiz uma projeção que naquele momento parecia absurda, de dólar a R$ 1,80. Até R$ 1,80 eu vou. A partir daí, prefiro observar (risos). Mas é importante entender que o real não tem movimento autônomo, isolado. Ele está se valorizando numa cesta de moedas - principalmente ligadas a economias exportadoras de commodities - e tem de acompanhar um pouco essa dinâmica. Ele não está sozinho.
O que impede o dólar de voltar ao patamar pré-crise?
Ele volta ao patamar pré-crise se as outras moedas também voltarem. E tem o Banco Central. Acho que o BC teria de acompanhar a cotação do real nessa cesta de moedas. Isto é, ele não deve interferir no processo de valorização dessa cesta. Mas se nessa cesta de moedas, o real, por alguma condição de movimento de capitais, tiver uma valorização maior, acho que é dever dele intervir.
O sr. não vê então nenhum grande problema na economia?
Por incrível que pareça, na metade do ano que vem vamos começar a nos preocupar com a inflação. E aí entra a questão fiscal. No período em que a economia privada deu esse vácuo, ele (governo) entrou, corretamente. Só que está na hora de sair. Porque, se acumularmos crescimento do consumo interno - que vai ocorrer -, volta dos investimentos e nível de gasto do governo tão elevado, vamos começar a criar tensão inflacionária, que vai desembocar na alta dos juros.
De qualquer modo, a partir do segundo semestre de 2010 pode haver um problema para o BC?
Acho que sim. Nós podemos começar a ver uma inflação mais próxima de 5% do que de 4,5% já no ano que vem.
Como o sr. vê o crescimento do Brasil em 2010?
Nós revisamos nossa projeção para crescimento do PIB em 2010 de 5% para 6%.
Qual sua expectativa para o relatório trimestral de inflação?
Acho que todas as projeções para este ano e para o ano que vem apontam ainda para um número por volta de 4,5% (IPCA). O que estou colocando como preocupação é uma projeção um pouco mais adiante, que não é bem o objetivo do relatório de inflação do BC.