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Crédito para as classes C e D é desafio ao mercado
Maior poder de consumo exige novas práticas das empresas
Mobilizados a entender o impacto da oferta e os mecanismos de cobrança da economia brasileira sob a ótica do consumidor, cerca de 900 executivos entre presidentes, diretores e gerentes estiveram presentes ontem na abertura do Congresso Consumidor Moderno de Crédito e Cobrança e Meios de Pagamento (CCMCC), durante o dia de ontem, em São Paulo. O evento financeiro discutiu possibilidades e desafios que surgem com o aumento de crédito para os consumidores das classes C e D e avaliou como as empresas devem se preparar para atender a esta nova demanda.
À frente da organização do Congresso, Roberto Meir, publisher do Grupo Padrão, abriu o primeiro painel - Oportunidades e desafios do boom do crédito: a ótica do varejo e a ótica dos bancos - lembrando que são necessárias novas ideias de gestão, em vista do crescimento econômico do País. Ele ressaltou que pesquisas recentes apontam que 40% deste desenvolvimento está relacionado ao crédito crescente. "Vivemos um momento único: temos 10 anos de perspectivas fantásticas para a economia, talvez maiores que na década de 70, durante o Milagre Econômico. Mas é preciso pensar em como fazer os novos consumidores saberem utilizar o crédito a que estão tendo acesso", ponderou, lembrando que mais de 50% da pirâmide de consumo no Brasil atual é da "classe média emergente".
Hilgo Gonçalves, presidente da financeira Losango, concordou que o grande desafio do varejo é trabalhar para um "consumidor sustentável" - aquele que pensa em valor agregado e não compra por impulso. Durante o painel, incentivou varejistas a pensarem a longo prazo, providenciando práticas que possibilitem que este advento do poder de consumo de classes anteriormente menos privilegiadas não se dissolva por erro de planejamento.
"Registramos 5% de crescimento no market share, isso se deve ao desenvolvimento das classes C e D. Portanto é preciso tomar iniciativas para estimular o uso consciente do cartão de crédito, evitando endividar excessivamente este novo consumidor, caso contrário, em um futuro próximo ele pode simplesmente deixar de comprar", alertou.
O presidente da Losango disse ainda que a demanda dos consumidores destas categorias requer muita atenção. "O potencial deste segmento é bem maior que o das classes A e B", observou, destacando que o perfil deste cliente já chega exigente, tanto em relação à qualidade do produto, quanto na questão dos juros. Gonçalves opinou que é preciso entender o que este novo consumidor quer, lembrando que a demanda varia de acordo com a região do País. Sugeriu que o varejo trabalhe cada vez mais pensando em aproximar a equipe de vendas dos clientes. "Não é forçar a venda, mas levar valor agregado, com informações, orientações à pessoa que está ali comprando, para que ela adquira um produto que vá utilizar de verdade." E, segundo o presidente da empresa, foi conhecendo melhor este novo consumidor que o setor viu a necessidade de alongar o crédito, inflando o número de parcelas - hoje possíveis de serem desdobradas em até 48 vezes.
Março registra aumento de vendas nos supermercados
As vendas reais dos supermercados brasileiros em março cresceram 10,42% na comparação com o mesmo mês de 2009, informou ontem a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Na comparação com fevereiro, a alta foi de 10,16%. Os índices foram deflacionados pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Já no trimestre houve elevação de 8,61% ante os três primeiros meses do ano passado.
A entidade também apresentou os dados da cesta AbrasMercado, composta por 35 produtos e calculada pela GfK, que em março teve alta de 2,32% em relação ao segundo mês de 2010. Já na comparação anual, a cesta teve alta de 6,49%, passando de R$ 257,75 em março de 2009 para R$ 274,48.
Os produtos com as maiores altas foram tomate (40,96%), batata (13,48%) e leite longa-vida (10,51%). Já entre os produtos com as maiores quedas estão papel higiênico (-5,98%), carne (-2,32%) e farinha de trigo (-1,19%).
A entidade também divulgou o Ranking Abras 2010, que contabiliza o faturamento do setor em 2009. O segmento teve vendas de R$ 177 bilhões no ano passado e o lucro líquido aumentou para 2,23% do faturamento, o maior da série histórica.
A pesquisa mostra ainda que o investimento no setor em 2009 alcançou R$ 3,4 bilhões, enquanto as previsões para este ano apontam R$ 2,07 bilhões. O grupo Pão de Açúcar recuperou a primeira posição entre as maiores do setor doméstico, com um faturamento de R$ 26,2 bilhões em 2009. O Carrefour, que era líder em 2008, somou R$ 25,6 bilhões em vendas no ano passado, e o Walmart Brasil, R$ 19,7 bilhões.
Para empresário, brasileiro precisa adquirir maturidade financeira
Um dos problemas enfrentados pelo consumidor brasileiro é a falta de educação financeira em relação ao crédito. Durante a abertura do Congresso Consumidor Moderno de Crédito e Cobrança e Meios de Pagamento ontem em São Paulo, o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), Paulo Rogério Cafarelli, lembrou que existe uma expectativa no País de que mais 100 milhões de pessoas abram contas bancárias e estejam aptas a adquirir crédito até 2020. "Dentro das estimativas para os próximos anos, espera-se que a população brasileira atinja maturidade na questão do consumo e que use o crédito com cautela, optando por prestações que caibam dentro do bolso, lembrando ainda que é preciso poupar no caso de imprevistos", apontou. Ele reforçou que o crescimento das classes C e D requer atenção para que este segmento não se torne inadimplente.
O presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contáveis de São Paulo (Sescon-SP), José Chapina Alcazar, lembrou que o consumidor em geral não tem alternativa de compra que não seja cartão de crédito, cheque pré-datado ou dinheiro. "As grandes redes poderiam estar trabalhando melhor se pudessem oferecer outras alternativas de crédito."
Em contrapartida, João Cox Neto, presidente da operadora de telefonia celular Claro, rebateu que não é papel do varejo conceder crédito. "Os lojistas podem ser parceiros das instituições financeiras para viabilizarem o crédito, mas este não é um problema de resolução do varejo nem há know-how para isso."
Para o diretor-presidente do Nossa Caixa Desenvolvimento, Milton Santos, é importante contrabalancear oferta de recursos para o varejo, mas também para as pequenas empresas. "Há de ocorrer no varejo uma forte demanda de bens de consumo e o fortalecimento de crédito para o setor produtivo é importante para que pequenas e médias empresas possam investir em seus negócios."